A história do transporte do café no Espírito Santo é um capítulo fundamental para compreender o desenvolvimento econômico e social do estado. Durante as décadas de 1950 e 1960, uma frota especial de veículos foi responsável por escrever algumas das páginas mais importantes dessa história: os caminhões que transportavam o “ouro verde” capixaba.
A FNM (Fábrica Nacional de Motores) teve papel preponderante nesse cenário. Os robustos caminhões FNM D-11000, conhecidos carinhosamente como “Fenemê”, tornaram-se os favoritos dos transportadores capixabas. Com sua força e durabilidade características, esses veículos enfrentavam as difíceis estradas do interior do estado, ligando as áreas produtoras aos portos de exportação.
O senhor Joaquim Ferreira, antigo transportador de café da região de Colatina, mantém preservado até hoje seu FNM 1957. “Este caminhão transportou mais de 100 mil sacas de café em 15 anos de trabalho. Nunca me deixou na mão, mesmo nas piores estradas da época”, relata com orgulho. O veículo, hoje totalmente restaurado, participa regularmente dos eventos do CLAVA-ES.
A Mercedes-Benz também marcou presença significativa nesse período. O lendário L-312, apelidado de “cara chata” devido ao seu design característico, conquistou muitos admiradores entre os transportadores capixabas. Sua mecânica robusta e economia de combustível eram especialmente apreciadas nas longas viagens entre o interior e o litoral.
As histórias desses transportadores misturam-se com a própria história do desenvolvimento do estado. Durante as décadas de 1950 e 1960, esses motoristas eram verdadeiros aventureiros, enfrentando estradas precárias, chuvas torrenciais e outros desafios para garantir que o café chegasse ao seu destino. Muitos deles tornaram-se figuras lendárias em suas comunidades.
Os postos de parada ao longo das principais rotas do café transformaram-se em pontos de encontro e troca de experiências. O Restaurante do Zé, na antiga estrada para Colatina, ainda preserva em suas paredes fotografias dessa época dourada. As histórias contadas ali, de geração em geração, mantêm viva a memória desses tempos heroicos.
A modernização das estradas e dos meios de transporte modificou significativamente essa realidade, mas o legado desses pioneiros permanece. Muitos dos antigos caminhões foram preservados por colecionadores e famílias tradicionais do estado, constituindo hoje um valioso patrimônio histórico e cultural.