Os anos 1950 em Vila Velha foram marcados por uma efervescência cultural e social sem precedentes, tendo os automóveis como protagonistas de uma era que ficaria conhecida como “Os Anos Dourados”. A Praia da Costa, ainda em processo de urbanização, tornou-se o palco principal de eventos que misturavam elegância, tecnologia e o charme característico da época.
Os desfiles de automóveis, realizados principalmente durante o verão e o carnaval, transformavam a orla em uma verdadeira passarela motorizada. Os Cadillacs, com seus cromados reluzentes e designs arrojados, dividiam espaço com os elegantes Chevrolets Bel Air e os imponentes Chrysler Imperial. Cada carro que passava era um espetáculo à parte, cuidadosamente preparado por seus proprietários para impressionar o público que se aglomerava nas calçadas.
Dona Maria Helena Buaiz, hoje com 92 anos, recorda com nostalgia: “Os domingos na Praia da Costa eram um verdadeiro desfile de moda e tecnologia. As famílias se preparavam a semana inteira para o corso. Os homens poliam seus carros até conseguirem ver o próprio reflexo, enquanto as mulheres escolhiam cuidadosamente seus vestidos e chapéus para combinar com os automóveis.”
O Automóvel Clube de Vila Velha, fundado em 1954, organizava eventos mensais que reuniam os proprietários desses veículos luxuosos. As reuniões aconteciam no antigo Clube Libanês, onde eram discutidas não apenas questões relacionadas aos automóveis, mas também os rumos do desenvolvimento da cidade. Muitas decisões importantes para o município foram tomadas durante esses encontros.
A influência americana era evidente não apenas nos carros, mas em toda a cultura que se desenvolveu ao seu redor. Os jovens da época adotaram o rock’n’roll, as saias rodadas e os penteados inspirados em Hollywood. Os drive-ins, embora poucos, tornaram-se pontos de encontro obrigatórios. O Drive-in da Prainha, inaugurado em 1957, era famoso por suas sessões de cinema ao ar livre, onde os espectadores assistiam aos filmes de dentro de seus automóveis.
Os postos de gasolina da época eram muito mais que simples locais de abastecimento. O Posto Alvorada, na Avenida Champagnat, oferecia serviços de lavagem e polimento especializado, além de contar com uma pequena confeitaria onde as famílias se reuniam enquanto seus carros eram cuidados. Os frentistas, sempre uniformizados impecavelmente, eram verdadeiros especialistas em atendimento personalizado.
O comércio local se adaptou a essa nova realidade automobilística. Lojas especializadas em acessórios automotivos começaram a surgir, oferecendo desde capas de banco sob medida até ornamentos cromados importados. A Casalupe, tradicional loja de autopeças da época, mantinha um catálogo atualizado com as últimas novidades do mercado americano.